
Taxadas como uma das grandes vilãs do meio ambiente neste início de século, as sacolas plásticas se amontoam nos lixões do país, bóiam nos nossos mares e rios ou se espalham pelas ruas das cidades. Afinal, o que você faz com a sacola plástica do mercado?
Para movimentar a discussão, surgiram os plásticos oxibiodegradáveis, com a promessa de se decomporem em até 18 meses. Eles chegaram ao mercado como a solução de todos os problemas ambientais, mas são seriamente criticados e postos à prova pelos especialistas, incluindo fabricantes dos plásticos tradicionais.
O professor de engenharia ambiental da Escola Politécnica da UFRJ Haroldo Mattos de Lemos, é enfático ao dizer que não existe plástico oxibiodegradável. “Não é biodegradável porque não entra em nenhum processo biológico. Eles usam aditivos que fazem com que o plástico se esfarele rápido, mas ele não se degrada totalmente. O nome é impróprio”, observa Lemos, que preside Instituto Pnuma Brasil. Haroldo de Lemos lembra que em fevereiro deste ano, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) editou nova norma sobre as nomenclaturas dos plásticos com objetivo de determinar o que é realmente biodegradável.
Presidente do Instituto Sócio Ambiental dos Plásticos (Plastivida), o engenheiro químico Francisco de Assis Esmeraldo informa que foi assinado um compromisso com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) para que os estabelecimentos de todo país só comprem sacolas plásticas aprovadas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (InMetro). Ele também reforça a inexistência do tal plástico oxibiodegradável.
Um produto químico quebra a estrutura molecular, tornando o material degradável. Esse processo se faz com a presença do oxigênio, por isso o nome “oxi”, pois é um processo de oxidação. No caso do suposto oxibiodegradável, as fábricas colocam aditivos na fórmula do plástico que quebram as cadeias moleculares mais rapidamente. “É como se você colocasse a sacola no triturador. Ela permanece na natureza como pó, com as mesmas características e levará as mesmas centenas de anos para se degradar”, explica Esmeraldo.
Já na biodegradação todo material é transformado em CO2 e água. O engenheiro químico observa ainda que a palavra “biodegradável” é muito sedutora e que os fabricantes se valem desse jogo de palavras para iludir a população.
Poluição invisível
Você pode perguntar: mas não é bom que o plástico suma? Depende. Os aditivos usados para catalisar o processo de “degradação” são, geralmente, compostos por metais de transição ou metais pesados que têm um impacto ambiental sério. “Ninguém sabe exatamente os impactos que o plástico oxibiodegradável acarretará, mas ele foi lançado como a salvação da lavoura”, critica a técnica em química Cristiana Passinato.
Para ela, o pior é o resíduo dos catalisadores químicos usados na aceleração do processo de decomposição. “Nos lixões, por exemplo, o solo é contaminado por esses metais pesados, assim como os arredores. Esta questão é ignorada e jogada para debaixo do pano. O impacto tem que ser citado e esses aditivos devem ser substituídos”, alerta.
“O problema não é mais visto, mas ele continua lá”, observa Haroldo Mattos de Lemos, presidente do Instituto Pnuma Brasil. O grande apelo dos fabricantes desse tipo de plástico é a possibilidade de desaparecimento em um ano e meio, e não mais em séculos, que gera uma sensação de solução. O possível desaparecimento pode acirrar o consumo indiscriminado do plástico. “Pensa-se unitariamente, e se esquece do montante acumulado com o tempo”, alerta Cristiana Passinato.
Um ponto levantado por Haroldo de Lemos e que pode parecer controverso é que se o plástico degradar rapidamente, liberando gases que acentuam o efeito estufa, ele contribuirá para o aquecimento global e mudanças climáticas, problemas ambientais imediatos e atuais. Desta forma, o plástico oxibiodegradável mais uma vez não pode ser visto como tão benéfico assim. “Quanto mais esse processo de decomposição demorar, menos emissões ocorrerão”, conclui Haroldo de Lemos.
Fonte: https://www.fiojovem.fiocruz.br/afundando-em-plastico
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