Nesses dias sombrios de pandemia de COVID-19 todos estão falando de como prevenir a gripe, sendo que não se sabe realmente se esse vírus causa uma gripe propriamente dito. Isso ocorre por conta dos seus sintomas muito similares e por atingir as vias respiratórias muito severamente causando sérios episódios de falta de ar, inclusive a ponto de a pessoa precisar de ventilação pulmonar ou mesmo ser hospitalizada e ser entubada em UTI (em sistema de isolamento, em quarentena).
Pesquisas científicas da área médica vêm surgindo e sendo divulgadas desenfreadamente por conta da pandemia. Esses estudos descrevem que o COVID-19 está acometendo boa parte da população mundial é que se trata de uma nova cepa de coronavírus – classe de vírus em forma de coroa (corona significa coroa em espanhol) que se conhece e estuda desde 1960. Sim, ele é conhecido por ser o vírus da gripe, aquela que ocorre nos invernos mais intensos. Só que essa nova variação genética (linhagem) que está causando esse alarde todo e tantas mortes. Não se conhece ao certo sua estrutura genética nem seus mecanismos de ataque e os nossos de defesa a essa nova ameaça microscópica. Para isso nos protegemos de forma muito básica: com higiene e prevenção, reforçando as defesas com boa alimentação e tomando mais vitaminas que reforçam nosso sistema imunológico.
Tocando no assunto da higiene básica pessoal e de ambientes, muito se cogitou da eficácia do uso do álcool 70 % em gel para as mãos e braços se encostássemos em alguma superfície que pudesse estar contaminada fora de nossa casa. O álcool passou a ser um utensílio de bolsas, mochilas para que fosse usado a tiracolo, pois emergencialmente quando ao acaso pudéssemos ser atingidos por gotículas de saliva provindos dos espirros ou tosse de quem estivesse perto em ambientes que formam aglomerações, tais como: coletivos, salas de aula, repartições públicas, bancos, etc. Porém o procedimento que demonstra ser mais eficaz é a lavagem das mãos, sendo feita de forma correta, com água e sabão neutro como já se vem exacerbadamente falando em todos os veículos de comunicação.
A grande dúvida é quanto ao ambiente em que fica o indivíduo infectado e aos objetos que ele toca, roupas que usa. Além da água e sabão muito se pergunta se a água sanitária também é eficaz contra o coronavírus, sendo que esse é um produto bastante usado até na desinfecção de ambientes contaminados pelo HIV, vírus da AIDS, um dos mais perigosos e nocivos que até então havíamos conhecido, por exemplo.
O COVID-19 apesar de altamente contagioso e perigoso – principalmente ao grupo de risco que é formado pelos idosos e alguns doentes crônicos de algumas doenças autoimunes – ele não se mostra resistente aos principais produtos de limpeza, e a altas temperaturas fora de organismos vivos. Ele não resiste. Isso não é diferente com a água sanitária.
O que se recomenda pela OMS (Organização Mundial de Saúde) e Ministério da Saúde: usa-se primeiro solução de água e sabão para limpeza dos ambientes supostamente contaminados, depois para desinfecção completa, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) determina que se pode utilizar a solução diluída de água sanitária.
A dúvida que resta seria sobre qual a solução ideal e que proporções usadas a partir da água sanitária comercial.
Primeiro precisamos saber a concentração da água sanitária comercial usualmente vendida no mercado. Uma vez sabendo essa concentração partimos para pesquisa de qual o percentual de água sanitária diluída devemos tomar como eficiente no caso da desinfecção de ambientes infectados. Por fim sabermos quanto de água pura devemos utilizar para misturarmos à água sanitária comercial para essa solução final. É importante salientar que a água precisa ser pura, ou seja, filtrada, mineral ou fervida e resfriada para ser usada em temperatura ambiente.
Vamos falar um pouco da química da água sanitária antes de ir à receita da solução diluída desinfetante? Afinal estamos falando de ciência também, apesar de estar em casa e em hospitais, não é?
Então, todo mundo conhece a água sanitária por seu apelido: “cloro”. Quem nunca disse um dia: “Vou passar cloro na casa inteira”? Só que não é bem assim que se fala quimicamente. O cloro (Cl) é um elemento químico que faz parte da fórmula do hipoclorito de sódio (NaClO). Cloro na realidade é o nome de um gás. Dito isso, é importante esclarecer que o cloro molecular apresenta-se na forma diatômica (2 átomos de cloro ligados por uma ligação covalente), o Cl2 que se apresenta na natureza na forma de vapor e é pouco solúvel em água (uns 6,5 g de cloro por litro de água a 25 °C) e por esse motivo o uso do sal citado.
O hipoclorito de sódio* em solução aquosa é o que chamamos de “água sanitária”. Ao ser dissolvido em água ocorre a ionização desse sal (fenômeno que causa a separação dos íons que formam essa substância eletrostática, efetuando ligações dessa natureza e em seguida vêm a se unir formando retículo cristalino). Em solução, o íon hipoclorito é que realmente age como desinfetante e não o cloro.
*NaOCl — como esses símbolos indicam, é composto pelos elementos sódio (Na), oxigênio (O) e cloro (Cl). Nessa solução, o íon hipoclorito dissolvido (OCl-) pode se separar ainda em íon cloreto (Cl-) e oxigênio (O), conforme o pH (medida de acidez) do meio e também pode se combinar a um hidrogênio e formar o ácido hipocloroso (HClO) ou, ainda, se recombinar para a formação de cloro elementar (Cl2 — o gás que já falamos lá em cima, lembra?) (Fonte: Guia dos Entusiastas em Ciências)
Ok, mas qual a solução que se pode usar para desinfecção de ambientes, então?
Considera-se que, segundo o Manual de Águas Sanitárias da PACHA: “A concentração da água sanitária varia de 2 a 2,5% de cloro ativo (20 a 25 g/l).”, o que segundo a RDC 110, DE 6 DE SETEMBRO DE 2016 (ANVISA) é a concentração indicada para uso em bancadas, porém os médicos em caso de uso domiciliar têm recomendado esse produto na forma diluída, como se pode perceber na fala do infectologista e professor da Faculdade de Medicina da UFMG, Dr. Mateus Westin: “No caso da água sanitária, Westin ressalta que o produto deve ser diluído em água comum. A recomendação é diluir 200mL de água sanitária 2,5% (concentração comercial) em 5L de água – isso gera uma solução de hipoclorito de sódio (água sanitária) à 0,1%. “Foi essa concentração que se mostrou eficaz nos estudos prévios e que, possivelmente, também é eficaz para a atual variante MERS-cov2”, informou.“ (Fonte: Estado de Minas Gerais).
Baixe aqui a cartilha produzida pela prefeitura de Contagem – BG
Veja também o meu texto Gerson Mól, docente da UnB e presidente da Sociedade Brasileira de Ensino de Química (SBEnQ):
Ainda cabe um alerta:
O produto só serve como substituição na hora de lavar paredes, vidros e pisos. NUNCA passe água sanitária no corpo!
Professora Cristiana de Barcellos Passinato
http://lattes.cnpq.br/4511971498276781
Doutoranda em Química Biológica com ênfase em Educação, Gestão e Difusão em Biociências, no IBqM-UFRJ. Especialista em Acessibilidade Cultural do Depto de Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da UFRJ. Mestre em Ciências, Ensino de Química do PEQui do IQ-UFRJ. Especialista em Políticas Públicas e Projetos Socioculturais em Espaços Escolares do CESPEB da Faculdade de Educação da UFRJ. Professora Docente I Coordenadora do Núcleo de Apoio Pedagógico Especializado (NAPES) da Diretoria Regional Metropolitana III da Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro (SEEDUC-RJ) – núcleo ligado à Coordenadoria de Diversidade e Inclusão Educacional. Técnica em Química lotada na Direção do IQ-UFRJ. Atualmente é a TAE responsável pelo Setor de Acessibilidade do IQ-UFRJ, representante do IQ-UFRJ no Fórum Permanente UFRJ Acessível & Inclusiva, Ex-presidente da Câmara responsável pelos assuntos acadêmicos desse mesmo Fórum e atua como docente credenciada ao CEEQuim (Curso de Especialização em Ensino de Química) do IQ-UFRJ. Pesquisadora do Observatório Internacional de Inclusão, Interculturalidade e Inovação Pedagógica (OIIIIPe) do Laboratório de Pesquisa, Estudos e Apoio à Participação e à Diversidade em Educação (LaPEADE). Também responsável pelas redes sociais do IQ-UFRJ